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sexta-feira, 7 de novembro de 2008

TUTORIA EaD

O surgimento das novas tecnologias da informação e da comunicação deu um novo impulso à Educação a Distância, fazendo aparecer, através da Internet, formas alternativas de geração e de disseminação do conhecimento. A Educação a Distância, antes centralizada no texto impresso, agora vai cedendo lugar para fontes eletrônicas digitais de informação, trazendo possibilidades quase inesgotáveis para a aprendizagem. Neste novo cenário, os papéis tradicionais do professor, aluno e escola precisam ser compreendidos e investigados para fazer frente às mudanças que se impõem. A Educação a Distância via Internet redefine substancialmente o papel do professor que agora assume posição diferenciada daquela conhecida historicamente. Como elemento central no processo ensino/aprendizagem, portanto, precisa ter sua função, sua prática, seu papel questionado, compreendido, estudado. Realiza-se uma reflexão sobre o professor-tutor no contexto de Educação a Distância online, destacando as principais diferenças entre suas atividades e aquelas atribuídas ao professor convencional. Nesta perspectiva, o presente estudo tem como propósito buscar as influências desse tutor na formação docente. São destacadas as interações realizadas presencialmente nos encontros quinzenais e no acompanhamento da prática pedagógica como à distância. A partir do desenvolvimento dessa pesquisa e das análises teóricas realizadas foram evidenciando questões centrais como EAD, proposta pedagógica, formação de tutor e de professores, interatividade e prática pedagógica que nos revela a importância deste estudo para a educação contemporânea, sobretudo para a formação inicial de professores.
Palavra-chave:
Internet, Educação a Distância, professor-tutor, funções do tutor.

INTRODUÇÃO
Vivemos em uma sociedade conhecida hoje como sociedade de informação; conceito que define bem a existência de fluxos tão complexos de idéias, produtos, dinheiro, pessoas, o que estabeleceu uma nova forma de organização social. O fato é que verificamos claramente as transformações na organização do trabalho, na produção, nos mecanismos de relacionamento social e no acesso à informação.
A implantação de cursos de graduação e pós-graduação na modalidade a distância foi intensificada nos últimos anos, abrindo um leque de possibilidades para o aprofundamento de estudos da modalidade. O incremento no universo de alunos, professores e gestores que trabalham com a educação a distância, atualmente, possibilita a investigação de elementos importantes em relação ao processo de ensino-aprendizagem realizado em EaD.
De maneira geral, os conhecimentos necessários ao tutor não são diferentes dos que precisa ter um bom docente. Este necessita entender a estrutura do assunto que ensina os princípios da sua organização conceitual e os princípios das novas idéias produtoras de conhecimento na área. Sua formação teórica sobre o âmbito pedagógico-didático deverá ser atualizada com a formação na prática dos espaços tutoriais. Para que um curso seja veiculado a distância, mediado pelas novas tecnologias, é preciso contar com uma infra-estrutura organizacional complexa (técnica, pedagógica e administrativa).
O novo papel do professor-tutor precisa ser repensado para que não se reproduzam nos atuais ambientes de educação a distância concepções tradicionais das figuras do professor/aluno. É preciso superar a postura ainda existente do professor transmissor de conhecimentos. Passando, sim, a ser aquele que imprime a direção que leva à apropriação do conhecimento que se dá na interação. Interação entre aluno/aluno e aluno/professor, valorizando-se o trabalho de parceria cognitiva; elaborando-se situações pedagógicas onde as diversas linguagens estejam presentes.
O papel do professor como repassador de informações deu lugar a um agente organizador, dinamizador e orientador da construção do conhecimento do aluno e até da sua auto-aprendizagem. Sua importância é potencializada e sua responsabilidade social aumentada. Sua função não é passar conteúdo, mas orientar a construção do conhecimento pelo aluno. “Exige-se mais do tutor de que de cem professores convencionais” (Sá, 1998:46), pois este necessita ter uma excelente formação acadêmica e pessoal.

DESENVOLVIMENTO
Os cursos de EaD apresentam uma equipe multidisciplinar e os professores assumem papéis diferenciados, que incluem desde a gestão administrativa destes projetos até a atuação como professor virtual, através de teleconferências. Segundo Authier (1998), estes professores “são produtores quando elaboram suas propostas de cursos; conselheiros quando acompanham os alunos, parceiros quando constroem com os especialistas em tecnologia abordagens inovadoras de aprendizagem”. No atual momento, vivemos um hiato característico de um período de transição. Implementamos cursos na modalidade a distância com forte agregado tecnológico, mas não temos ainda professores dos conteúdos específicos das disciplinas em número suficiente com desenvoltura no uso das TIC´s.
O professor responsável por um determinado conteúdo não precisa ser um especialista em tecnologia para operacionalizar propostas inovadoras. Ele precisa ser um usuário pleno das tecnologias para ser capaz de propor formas de interação do seu conteúdo por outras mídias. Um professor que esteja restrito ao entendimento de que a aula só acontece em uma sala tradicional, não conseguirá transpor os conteúdos de sua disciplina para a metodologia a distância com eficácia.
“Nessa perspectiva não resta apenas ao sujeito adquirir conhecimentos operacionais para poder desfrutar das possibilidades interativas com as novas tecnologias. O impacto das novas tecnologias reflete-se de maneira ampliada sobre a própria natureza do que é ciência, do que é conhecimento. Exige uma reflexão profunda sobre as concepções do que é o saber e sobre as formas de ensinar e aprender”. Kenski (2003, p.75).
Esta mudança de atitude precisa estar presente em todos os elementos envolvidos na construção de um curso na modalidade a distância, especificamente nos professores que interagem com o aluno diretamente. Investigar e analisar como se realiza a aprendizagem e quais as ferramentas possíveis de utilização para viabilizá-las é fundamental para quem trabalha com o aluno de EaD. A complexidade nas relações na EaD pode ser exemplificada pela quantidade de pessoal envolvido para ofertar apenas uma disciplina. Entre tutores, autores, revisores, especialistas de EaD, webdesigners, entre outros, a formatação final da disciplina torna-se uma construção coletiva. É provável que o resultado final seja bem diverso do pensamento inicial do professor autor, e esta é apenas mais uma das inúmeras crises que acontecem ao longo do processo. Não existe um consenso sobre qual o melhor caminho para enfrentar os inúmeros obstáculos no desenvolvimento da aprendizagem, principalmente mediado por tecnologias. Lévy (1999) nos fornece algumas pistas nesta direção quando afirma que o uso das tecnologias digitais e das redes de comunicação interativas provoca uma ampliação e mutação na relação com o saber.
O aluno ao longo do processo de aprendizagem terá contato com professores diferentes em cada disciplina (autor/formador, tutor, especialista em EaD), que estarão orientando o mesmo conteúdo. No caso da EaD o aluno tem, através de diferentes meios e instâncias, contato com diferentes sujeitos que buscam orientar sua aprendizagem, provocando em alguns momentos um verdadeiro duelo de forças sobre qual o melhor caminho para facilitar a aprendizagem.
Observamos que as definições dos diferentes papéis do professor na Educação a Distância podem variar de acordo com a Instituição que desenvolve o projeto. Para analisar a interação dos diferentes papéis do professor nos cursos de graduação a distância, vamos utilizar as categorias propostas pela Secretaria de Educação a Distância (SEED) do Ministério da Educação, que são adotadas pela maioria das universidades públicas que trabalham com EaD.
O tutor é o professor que atende o aluno diretamente no pólo, orientando-o na execução de suas atividades, auxiliando-o na organização do seu tempo e dos seus estudos. Geralmente ele apresenta uma formação generalista vinculada à área do curso e não a uma determinada disciplina. Uma das atribuições do tutor é tirar as dúvidas dos alunos em relação aos conteúdos apresentados, mas precisamos considerar que dependendo da disciplina ou do conteúdo, esta tarefa poderá não ser desempenhada com sucesso. O tutor é a figura mais próxima dos alunos e o relacionamento entre estes dois grupos é sempre estruturado em um grau de afetividade bastante considerável.
Em todos os estudos sobre EaD é consenso a importância do papel da tutoria no sucesso da aprendizagem e na manutenção destes alunos no processo. Em alguns casos, verifica-se que o papel do tutor é mais importante do que o material utilizado ou as plataformas de aprendizagem disponíveis. A questão preponderante aqui é, se o papel do tutor é tão essencial ao processo de EaD e por que razão alguns projetos o colocam em um plano menos importante? Para exercer o papel da tutoria podemos contratar alunos dos cursos de graduação ou professores recém-formados sem experiência como professores?
Quais são os requisitos fundamentais para a função de tutor? Segundo Belloni (2000), algumas capacidades, tais como orientar a aprendizagem, motivar o aluno, conhecer as ferramentas tecnológicas, ser aberto a críticas, entre outras, são essenciais ao bom desempenho de um professor em EaD.
O perfil do tutor de um curso a distância exige algumas características que não estão relacionadas apenas com uma competência objetiva. São aspectos relacionados ao relacionamento interpessoal e a compreensão de educação que cada indivíduo constrói internamente. Não basta apenas um discurso motivador e uma proposta de trabalho enfocando a construção do conhecimento de forma conjunta com o aluno. É fundamental que este professor adquira ou desenvolva habilidades de relacionamento interpessoal que valorize um processo de formação flexível, com abertura para o diálogo e negociação constantes durante a aprendizagem.
Segundo Prado (2006), no contexto de alguns cursos na modalidade a distância, a ênfase é direcionada para um dos elementos do processo de ensino aprendizagem – materiais, atividades e interação, que são tratados isoladamente.
“Neste caso, há geralmente uma supremacia entre eles, por exemplo, quando o foco centra no ensino a mediação pedagógica tende a enfatizar a produção de materiais. Ao contrário deste foco, quando a ênfase é centrada na aprendizagem, a mediação pedagógica privilegia as interações.” (Prado, 2006, p.117)
Ao focar em elementos distintos da aprendizagem (material, ambiente virtual, avaliação, etc.) a função do tutor é deliberadamente esvaziada e esta estratégia pode ser explicada a partir de vários fatores. Podemos observar a preocupação com a formação dos tutores e a ausência de vínculo institucional, a formação em um ambiente tradicional, a existência de vínculos afetivos que poderiam comprometer a integridade do processo de avaliação, entre outros fatores.
Um curso na modalidade a distância que esvazia a função do tutor não estará necessariamente fortalecendo outros papéis na dinâmica da aprendizagem. Pelo contrário, o risco maior é alimentar uma lacuna na construção da aprendizagem, criando obstáculos no processo. Todo curso na modalidade a distância constrói um ferramental poderoso para o desenvolvimento da autonomia e disciplina. O foco não está direcionado apenas para a aquisição do conteúdo, mas também para o desenvolvimento de uma série de habilidades e competências que permeiam a aprendizagem. É justamente esta a razão dos altos índices de evasão de cursos desta natureza, uma vez que a modalidade a distância não é adequada para todos os indivíduos. Ao limitar a ação do tutor no processo de aprendizagem, uma mensagem repleta de ambigüidade é enviada aos alunos: incentivamos e promovemos a autonomia e o crescimento individual dos alunos, mas mantemos uma série de ações que limitam a atuação do tutor apenas ao campo da afetividade e controle. Este processo acaba frustrando ambos, tutor e aluno em diferentes níveis, pois nenhum dos dois é considerado apto a solucionar questões emergenciais no cotidiano da aprendizagem. Um tutor que apenas tira dúvidas e atua como mensageiro dos professores e gestores do curso, não será um parâmetro confiável para o aluno em sua busca por conhecimento e autonomia.
Um tutor, com participação efetiva no processo de avaliação e construção dos conteúdos, torna-se um elemento fundamental para o sucesso de qualquer curso a distância, pois cabe a ele observar e entender como o aluno aprende, criando estratégias de aprendizagem significativas para o aluno. Observamos que diversos autores que refletem sobre a apropriação das novas tecnologias na educação resgatam. É importante ressaltar a propriedade do resgate de conceitos de Vigotsky (1987) com propriedade, principalmente no que se refere aos cursos realizados a distância. Para Alava (2003), o paradigma da aprendizagem contextualizada é adequado à aprendizagem a distância devido aos suportes tecnológicos que permite chegar ao aluno no seu contexto habitual. Além disso, a abordagem sócio-interacionista ressalta o papel de guia desempenhado pelo professor e pelos colegas como facilitadores da aprendizagem. O fato de introduzir uma dimensão de interação social na análise e nos mecanismos pelos quais novas competências podem ser construídas no indivíduo abriu caminho para novas aplicações da tecnologia.
O professor formador acompanha e operacionaliza a disciplina durante o período em que ela está acontecendo. Ele pode ser ou não o autor do material utilizado pelo aluno. É responsável pela elaboração das provas e das atividades e orienta os tutores nos objetivos e entraves do conteúdo. O contato do professor/aluno é realizado através dos chats e dos encontros presenciais agendados para a disciplina, embora esta atuação possa variar em cada Universidade. O foco deste professor é superar as dificuldades dos alunos com o conteúdo específico, buscando alternativas para facilitar o processo de aprendizagem, pensando em momentos presenciais e no formato adequado do conteúdo para ser usado virtualmente.
O professor que atua como gestor em educação a distância tem a função de transpor todo o material desenvolvido para a linguagem em EaD, orientando os tutores e professores formadores no processo de aprendizagem, gerenciando pedagogicamente o ambiente virtual e todas as ferramentas tecnológicas utilizadas no curso. Cabe ao gestor em EaD unificar a linguagem em EaD do curso, considerando o projeto político-pedagógico, o público alvo e os recursos humanos disponíveis. Este professor atua diretamente com os alunos, professores formadores, tutores e técnicos, observando os obstáculos no processo de aprendizagem, propondo novas estratégias e realizando avaliações constantes durante o processo.
É interessante observar que todos os professores utilizarão as mídias propostas e, portanto, precisam ter domínio das ferramentas e conhecer em profundidade todas as possibilidades existentes para elaborar estratégias para um aproveitamento eficaz dos alunos. A melhor ferramenta tecnológica não surtirá o efeito esperado se os alunos não se sentirem confortáveis e perceberem sua importância. Do mesmo modo que um professor que não compreende as mudanças na aquisição do conhecimento provocadas pelas tecnologias, não conseguirá apropriar-se dos benefícios proporcionados.
Neste aspecto, é fundamental que os papéis sejam claramente definidos e distribuídos considerando o perfil de cada professor e sua abertura aos novos processos de ensino-aprendizagem utilizado em uma modalidade flexível.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Quando iniciamos esta pesquisa, buscávamos pistas para compreender o eixo propulsor da aprendizagem dos alunos em EaD. Ao longo do processo fomos observando que as dificuldades dos alunos eram similares aos seus professores, supostamente detentores do conhecimento. O papel do professor na modalidade a distância é essencial para o sucesso da aprendizagem do aluno. Independente do papel que esteja exercendo em determinado momento, motivador, autor, gerenciador de ambiente, etc. o conjunto de suas ações determinará a qualidade e o sucesso do curso. A modalidade, por sua própria estrutura, incentiva o aluno a desenvolver sua autonomia, ser independente, responsável por sua própria aprendizagem.
Estas competências aumentam o nível de exigência destes alunos desencadeando um processo contínuo de busca pela melhoria da qualidade e novas estratégias de aprendizagem. A compreensão da importância dos papéis múltiplos exercidos pelos professores na EaD poderá abrir um espaço para revermos as estruturas implementadas até o momento.
Estruturas rígidas e fortemente hierarquizadas não coadunam com espaços de aprendizagem flexíveis e abertas assim como modelos prontos e fechados não terão espaço em uma educação do futuro. Segundo Lévy (1999), “os indivíduos toleram cada vez menos seguir cursos uniformes ou rígidos que não correspondem a suas necessidades reais e à especificidade de seu trajeto de vida” (p.169). O mais importante é que ao ouvir todos os atores envolvidos no processo, refletir conjuntamente e propor novos caminhos, todos estão crescendo durante este processo. Ao compartilhar experiências e saberes, cientes que o conhecimento só pode existir como construção coletiva da humanidade, estamos dando um importante passo em direção ao futuro: o passo de quem não tem medo de errar e compartilhar.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, Maria Elizabeth Bianconcini de. Educação a distância na internet: abordagens e contribuições dos ambientes digitais de aprendizagem. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 29, n. 2, 2003.
AUTHIER, Michel. Le bel avenir du parent pauvre. In Apprendre à distance. Le Monde de L’Éducation, de la Culture et de la Formation – Hors-série – France, Septembre, 1998.
ALAVA, Séraphin. Ciberespaço e formações abertas: rumo a novas práticas. Porto Alegre: Artmed, 2002.
BELLONI, M.L. Educação a Distância, Campinas: Autores Associados, 2003.
CASTELLS, M. A Sociedade em Rede, São Paulo: Paz e Terra, 1999.
EVANS, T & NATION, D. Educational Technologies: reforming open and distance education. In: Reforming open and distance education. Londres: Koogan, 1993.
HARVEY, D. Condição Pós-Moderna - Uma Pesquisa Sobre as Ori¬gens da Mudança Cultural, São Paulo: Loyola, 1993.
LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999.
KENSKI, Vani Moreira. Tecnologias e ensino presencial e a distância. São Paulo: Papirus, 2003.
PRADO, Maria Elisabette. “A Mediação Pedagógica: suas relações e interdependências.”In: Anais do XVII Simpósio Brasileiro de Informática na Educação. Brasília, 2006.


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2 comentários:

  1. Oi querida,
    Obrigada por ter visitado meu blog e ter se tornado uma seguidora.
    Também sou professora de Português, trabalho no ensino público do estado da Bahia e a pouco tempo estou trabalhando com tutoria em EaD.

    Um beijo grande,

    Morgana

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  2. Amiga Morgana,
    Temos que colocar em prática as palavras do grande Érico Veríssimo, quando ele nos diz:
    "Felicidade é a certeza de que a nossa vida não está se passando inutilmente."
    Feliz 2011 com saúde e paz!

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